A ausência de saneamento básico adequado ainda representa um grave problema de saúde pública em diversas regiões da Amazônia. Em Nova Olinda do Norte (AM), um estudo recente revelou a relação direta entre o tipo de abastecimento de água e o aumento de casos de doenças intestinais entre famílias de comunidades rurais e ribeirinhas.
Essas infecções, conhecidas como doenças de veiculação hídrica, incluem diarreia, amebíase, giardíase, ascaridíase e hepatite A — todas relacionadas à água contaminada e à falta de tratamento adequado de esgoto e resíduos.
O que o estudo investigou?
A pesquisa faz parte de um projeto maior sobre saúde materno-infantil em populações ribeirinhas e foi realizada por meio de entrevistas com responsáveis por domicílios em cinco comunidades (sendo três ribeirinhas e duas rurais). Os dados foram coletados com apoio da UEA, IDIS, Secretaria de Saúde do Amazonas e prefeitura local.
As perguntas principais foram:
- Algum membro da família teve diagnóstico médico de parasitose no último ano?
- Alguém procurou atendimento médico por diarreia no mesmo período?
Resultados que chamam atenção
Foram avaliados 155 domicílios, sendo:
- 55,3% ribeirinhos
- 44,7% rurais
Dentre eles:
- Apenas 14,8% tinham água encanada (rede)
- A maioria (85,2%) utilizava água de poço, rio ou outras fontes não tratadas
Sobre os casos de doenças:
- 57,4% das famílias relataram ao menos um caso de parasitose
- Entre elas: 83% com ascaridíase, 50,5% com ameba e 9% com giárdia
- 18% das famílias relataram pelo menos um caso de diarreia
O papel do tipo de abastecimento
Famílias que retiravam água de fontes não tratadas apresentaram proporções significativamente maiores de doenças:
- 92,8% dos casos de diarreia ocorreram em domicílios com água de poço, rio ou cacimba
- 89,8% das parasitoses também foram diagnosticadas nessas mesmas condições
As diferenças em relação às famílias com acesso à rede de água foram estatisticamente significativas.
Ribeirinhos: maior exposição, sem diferença de renda
Embora a renda e escolaridade tenham se mostrado semelhantes entre famílias rurais e ribeirinhas, os ribeirinhos apresentaram maior vulnerabilidade às doenças, o que pode estar ligado à dificuldade de tratar a água e à falta de estrutura para o descarte adequado dos dejetos.
Conclusão
A alta incidência de doenças de veiculação hídrica reforça a urgência de investimentos em saneamento básico, acesso à água potável e educação em saúde ambiental, especialmente em comunidades ribeirinhas da Amazônia.
Além da assistência médica, é essencial que o poder público identifique essas vulnerabilidades e proponha soluções viáveis e adaptadas à realidade local, garantindo saúde e dignidade para todas as famílias da região.