O tratamento do HIV evoluiu muito nas últimas décadas, especialmente com o avanço da terapia antirretroviral (ART). Ainda assim, manter o vírus sob controle em crianças e adolescentes continua sendo um desafio em diversas regiões do Brasil — e a realidade do Amazonas mostra bem isso.
Um estudo realizado em Manaus avaliou crianças e adolescentes com HIV após 5 anos de tratamento e trouxe resultados que merecem atenção, especialmente quando falamos de políticas públicas, adesão ao tratamento e cuidado contínuo.
📍 O que o estudo investigou?
O objetivo foi avaliar a supressão viral de longo prazo (isto é, quando a carga viral fica indetectável — abaixo de 50 cópias/mL) em crianças com HIV que iniciaram o tratamento entre 1999 e 2016, com idade superior a 1 ano.
Foram acompanhados 121 pacientes, divididos em três faixas etárias:
- 1 a 5 anos
- 5 a 10 anos
- 10 a 19 anos
Os dados incluíram exames de carga viral e contagem de células CD4⁺ desde o início do tratamento até 5 anos depois.
📉 O que os resultados mostram?
Mesmo com o tratamento contínuo, apenas 46,9% das crianças e adolescentes conseguiram manter a supressão viral após 5 anos.
A taxa de sucesso foi diferente entre os grupos:
- 1 a 5 anos: apenas 36,6% com supressão viral
- 5 a 10 anos: 53,3% conseguiram o controle
- 10 a 19 anos: apenas 30% apresentaram supressão
Por outro lado, 90,4% das crianças tiveram melhora imunológica, com aumento significativo das células CD4⁺ — um marcador importante da recuperação do sistema imune.
⚠️ Por que manter o vírus sob controle ainda é difícil?
Apesar do avanço no acesso ao tratamento, manter o controle a longo prazo depende de vários fatores:
- Adesão rigorosa ao uso diário dos medicamentos
- Suporte familiar e psicológico
- Monitoramento frequente com exames
- Acesso contínuo ao sistema de saúde
- Educação em saúde e suporte para adolescentes em transição
Além disso, não foram identificados fatores preditores claros que ajudem a antecipar quais crianças vão ou não atingir a supressão viral — o que reforça a necessidade de um olhar individualizado para cada paciente.
💡 E o que pode ser feito?
- Fortalecer o acompanhamento multiprofissional
- Desenvolver estratégias de adesão ao tratamento específicas para crianças e adolescentes
- Ampliar o acesso a exames regulares
- Capacitar equipes para abordagem humanizada e contínua
O cuidado com o HIV na infância vai muito além do medicamento. É preciso garantir acompanhamento, vínculo com a equipe de saúde e suporte integral para que essas crianças tenham uma vida longa, saudável e com qualidade.